segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A Bus Named Fear - Final.

Ele era idiota por acaso? Todos lá iriam morrer. Se bem que na verdade, a única pessoa prestes a morrer era eu. O choro e o desespero pareciam sugar minhas forças, e eu ia me esvaindo da vida e minha cabeça se enchia de pensamentos. Quando bateríamos em algo? Ou ele iria me matar ali mesmo? Se não morresse, o que seria de mim? Era tudo tão confuso... Aquilo tudo não poderia estar acontecendo comigo. Minha família, eles sentiriam falta de mim? Será que a menina estranha e deslocada dos outros familiares seria esquecida logo? Tantas perguntas. Nenhuma resposta. O motorista de repente me soltou e eu caí no chão. Abracei meus joelhos e senti uma imensa carência. Foi então quando o corpo do meu cadáver misterioso me abraçou. Os bichos dentro dele caiam sobre mim como minhas lágrimas. Era tudo tão torrencial, mas eu não me importava... Não me importava com o sangue no chão, um cara morto que já estava quase totalmente decomposto nem o outro cara morto que eu esperava que estivesse dirigindo aquele maldito ônibus. Parecia que eu pertencia àquele mundo. Tudo parecia tão normal e familiar... Só faltava que eu me incorporasse de vez. Voltei ao meu assento de sempre, o mais afastado e escondido. Meu amigo estava comigo. E logo estaríamos mais próximos ainda, e isso me alegrava muito. Fechei os olhos para me recompor e quando os abri, nada mais do meu mundo estava ali. Era tudo tão normal que eu me espantei. Acho que era para que eu tivesse uma última visão desse mundo medíocre. Corri e cheguei até a catraca, passei por ela e o motorista olhou com estranheza para mim. Acionei o mecanismo que abre a porta e ouvi o grito vindo do motorista para que eu parasse. Mas eu queria ir em frente e partir. Eu sei que eu pulei e a última coisa que vi foi o rosto de um garoto com uma beleza que eu não poderia descrever. Talvez fosse um anjo, mas eu queria o inferno.

***

- E a paciente do quarto 306?

- A que tem delírios?

- Sim, ela.

- Dormindo agora. Espero que não tenha pesadelos.

- Sabe, e se ela se tivesse conseguido morrer? Eu acredito que a ira dos céus para quem se suicida é muito grande. Pobre menina... Tão bonita, mas também obscura. Mas quem sabe se agora ela não vira uma pessoa feliz?

- Quem sabe, quem sabe... Mas acho difícil. Pessoas que sofrem disso não têm uma vida muito feliz convivendo com essas alucinações. Alguns preferem morrer ao agüentar as visões macabras.

- Mas eu ainda tenho esperança de que essa menina vai superar isso. Ela tem muito para viver.

***

O enterro de Manuelle tinha uma aura de indiferença e hipocrisia. Os únicos que pareciam realmente tristes eram seus pais. Mas isso logo passaria. Era bom não ter uma louca na família. Agora sim seriam uma família de verdade, sem a interrupção de uma menina que era um peso morto. E felizmente seu caixão estava lacrado. Se ninguém tinha vontade de ir ao enterro daquela ridícula, imagine tivessem visto um rosto totalmente desfigurado por cortes do espelho no qual ela bateu sua cabeça várias vezes antes de se afogar na banheira. Mas ainda sim era possível ver um sorriso naquela massa que outrora fora um rosto que continha uma curiosidade insaciável.

Via-se na porta um garoto de roupas pretas, que parecia querer esconder sua beleza e também um sorriso.


Dedico o conto à minha vizinha (que mora longe) funny face e fiel leitora, que foi minha motivação para que eu o terminasse :3

2 comentários:

Jücca de Melo disse...

Que bacana ^___^
Parabéns!

Anônimo disse...

lindo lindooo !
Adoro mtomtomto os contos do Liou
:3
pra mim, bjs HUEUUEHUE n
<3333